Uma casa sem janelas para um homem sem interesse no mundo.

Não lembro, exatamente quando, mas me tornei assim. Indiferente.
Não aquele indiferente que costumava ser, arrogante, que ignorava as coisas com um certo prazer nos olhos, mas uma espécie mais simples, um "tanto faz" nunca fez tanto sentido antes.

Sinto a diferença nos meus próprios dias, pessoas que não vejo mais, coisas que não lembro onde estão, sonhos que eu costumava ter e agora se foram, pensamentos mais calmos e tediosos. Tudo desapareceu, e eu de tão inerte, não percebi. Ou percebi e não me importei. Não que eu me importe agora, não vou chorar sobre o leite, até então, derramado, tão pouco o contrário, não vou rir, esbravejar, me enfurecer, escarnear ou difamar 'o que' ou 'quem' se foi. Não ligo, sincero!



Não confundam isso com conformismo, não estou conformado. Só não tenho mais o animo de antes, pra correr atrás, fazer aquele Auê, por coisa que eu sei (pelo menos assim penso) que não vai adiantar.

Talvez esse texto seja uma fagulha do velho eu tentando se comunicar com o mundo exterior,
mas pro 'novo eu', "Tanto Faz".
Talvez seja só o cansaço de esmurrar por anos a fio, a ponta da faca, que coitada, deve estar até cega. Mas uma coisa não quer morrer em mim, esse sentimento de desconforto, de vazio, de estranheza, algo frio e cruel que eu não consigo fazer calar. Ele grita, ele se debate arranha as paredes do meu crânio com todas as forças, lutando pra coexistir comigo, tentando sair, talvez. Isso ta ficando chato. Tão monótono quanto o dia-a-dia que eu prometi à mim mesmo que não vivenciaria.

Me recuso, talvez minha única revolta atualmente, a ser igual. O normal é tedioso, e eu, nunca tive dias tão calmos.

Me estressa essa falta de pressa, me irrita esse cuidar por cuidar, ter que sorrir por querer ser conveniente, não chorar para que não nos venham consolar com palavras vazias e úmidas, calar para poder continuar falando, fugir hoje para lutar amanhã.

Eu não fujo mais, cansei, não corro (nem me movo) pra lugar algum além do bar que me vende os cigarros; e volto. Sento aqui e fico olhando coisas engraçadas que já não me fazem rir, coisas assustadoras que não me botam medo, coisas excitantes que nem sequer me prendem a atenção.
Pois é, esse é um alguém que desistiu. Não por covardia, mas por falta de animo. Não há mais nada de interessante lá fora, e tão pouco aqui dentro. Talvez por isso eu tenha escolhido viver numa casa sem janelas.

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